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Estratégias nutricionais para a época seca do ano
As forrageiras tropicais raramente satisfazem adequadamente todos os requerimentos minerais dos bovinos. A concentração mineral das forrageiras depende da interação de vários fatores como: fertilidade do solo, espécie forrageira, estado de maturidade da planta, manejo de pastagens, clima, dentre outros. Vários fatores também influenciam as exigências em minerais dos ruminantes, incluindo o tipo e o nível de produção, a idade do animal, raça, etc.
Desse modo, a suplementação mineral é essencial para o crescimento, desenvolvimento e desempenho produtivo e reprodutivo dos bovinos.
De maneira geral, a distribuição forrageira no período seco é de 10 a 20% da produção anual total, gerando excedente de produção nas águas e produção restrita na seca. Especialmente nesta última, em decorrência natural das alterações de crescimento da pastagem, além da menor oferta, a qualidade da forragem também é baixa, caracterizando-se por elevado teor de fibra com maior proporção de lignina e diminuição no teor de proteína. Como a degradação da porção fibrosa é feita pelos microorganismos do rúmen, estes fatores, principalmente a deficiência de proteína, levam a um menor crescimento e atividade microbiana. Portanto, menor digestão da fibra, menor taxa de passagem do alimento pelo rúmen e consequentemente menor consumo de matéria seca pelos animais.
Nessa época, os suplementos devem ser constituídos de fontes de proteína de alta degradabilidade, podendo-se utilizar fontes de nitrogênio não proteico (ureia.) e fontes de proteína verdadeira (farelos proteicos), objetivando atender os microorganismos ruminais e o adequado suprimento de minerais.
De maneira geral, os suplementos para a época seca do ano passaram por três fases de desenvolvimento tecnológico. Inicialmente misturas de suplementos minerais com ureia, seguida de formulações contendo também fontes de proteína verdadeira e mais recentemente com aditivos, como promotores de crescimento por exemplo. Além disso, diferentes níveis de fornecimento foram adotados, como o proteico de baixo consumo, o proteico energético de alto consumo e a ração, visando desempenhos estratégicos nesta época para diferentes sistemas de produção.
Geralmente, apenas a suplementação mineral promove a perda ou manutenção de peso no período seco do ano. Os proteicos de baixo consumo (1g/kg de Peso Vivo) promovem ganhos moderados de 200 a 300 g/cab./dia. Já para os suplementos proteicos energéticos de alto consumo (3 a 4 g/kg de Peso Vivo) espera-se ganhos de peso de até 600g/cab./dia e as rações concentradas (de 1 a 2% do Peso Vivo) podem levar a ganhos semelhantes aos obtidos em sistema de confinamento, como de 1 a 1,5 kg/cab./dia. Nesses tratamentos o desempenho está ligado diretamente a disponibilidade de forragem. Vale ressaltar que, dependendo da estratégia adotada, pode-se até aumentar a taxa de lotação das pastagens devido ao efeito de substituição acarretado pelo tipo e quantidade de suplemento fornecido no cocho.
Um ponto importante de manejo a ser considerado é a disponibilidade de cocho necessária para cada tipo de suplementação. Sendo considerados adequados de 3 a 5 cm/cabeça para a suplementação mineral convencional, de 10 a 12 cm/cabeça para a suplementação proteica de baixo consumo e de 40 a 50 cm/cabeça para a suplementação proteica energética de alto consumo ou para a ração concentrada Estes ajustes visam o acesso adequado ao cocho e o consumo ideal por todos animais do lote.
Figura 1) Animais suplementados com proteico de baixo consumo (MAXPEC SECA).
Eventualmente, apenas uma análise pontual do valor da arroba e dos custos dos insumos no final do período das águas pode levar a uma tomada de decisão equivocada quanto ao tipo de estratégia a ser adotada para as diferentes categorias para o período de seca. Como por exemplo, num momento de incertezas futuras, onde o valor da arroba ainda está “andando de lado”, os custos dos insumos vieram de altas ou ainda estão oscilando conforme a desova da safra, da safrinha, dos estoques de passagem e das exportações de grãos no mercado, onde as perspectivas de um cenário político e econômico não são animadoras, com denúncias de corrupção a todo momento no país e eleições que ocorrerão justamente no final do período em questão.
De qualquer maneira, a suplementação com proteico de baixo consumo para os animais desmamados no início da seca, historicamente, tem se mostrado viável e com a melhor relação benefício:custo quando comparado com as demais épocas do ano.
Na tabela 1, notamos que para o ganho de peso adicional de 250g/cab./dia, promovido pelo proteico de baixo consumo, em relação ao suplemento mineral convencional e considerando uma arroba a R$140,00, podemos obter um lucro adicional de R$109,52/cabeça e um custo da arroba produzida de R$ 30,48 num período de 120 dias. Esse valor ainda é melhor se considerarmos o fato de que animais em crescimento suplementados durante a fase recria em pasto, quando em fase de terminação, apresentam maiores ganhos de peso e ainda maior rendimento e melhor acabamento de carcaça do que animais não suplementados, isso devido a composição do ganho de peso desses animais. Entretanto, apenas para facilitar as contas, para essa fase de recria foi considerado o rendimento de 50% tanto na entrada como na saída do tratamento. Um indicador interessante de se observar nessa análise é o ponto de equilíbrio, ou seja, o ganho de peso diário mínimo para se cobrir o investimento. Neste caso, a necessidade de acréscimo de ganho de apenas 50g/cab./dia a mais que a suplementação mineral convencional.
Tabela 1) Suplementação mineral e proteica de baixo consumo na seca.
Este valor é mais interessante quando é avaliado inserido num sistema de produção. Neste contexto, outras vantagens indiretas são obtidas através destas técnicas, como a antecipação na idade de abate para machos e, no caso das fêmeas, antecipação na idade de cobertura das novilhas e melhoria do escore de condição corporal ao parto para vacas primíparas e multíparas.
Considerando que a nossa produção de carne é quase toda a pasto, as estratégias de terminação, como a suplementação proteica energética ou o semiconfinamento devem ser consideradas também como ferramentas de ajustes nesses sistemas intensivos de produção, que quando desenvolvidas de forma planejada e bem executadas, permitem aumento considerável na produtividade e lucratividade por unidade de área. Assim sendo, o desfrute é maior e a receita também.
Além disso, em sistemas que visam confinar animais, a utilização dessas estratégias nutricionais a pasto possibilita a entrada de animais melhor adaptados as dietas concentradas e ao manejo de alimentação diário, além de mais pesados na fase de terminação, diminuindo consequentemente o tempo de cada animal nessa fase. Sendo assim, nos permite produzir carne em quantidade e qualidade, respeitando os aspectos sanitários, nutricionais e comportamentais dos animais e do meio ambiente.
Na tabela 2, nota-se que a adoção da suplementação proteica energética de alto consumo pode ser eficiente nutricionalmente, além de interessante financeiramente, para a produção das arrobas necessárias para o abate dos animais.
Tabela 2) Suplementação mineral e a terminação com proteico energético de alto consumo.
Devido à escassez de pastagem, o período da seca pode ser o melhor período para se terminar animais com o uso de rações concentradas. Além das condições climáticas mais favoráveis (pouca chuva e temperatura amena), ainda há de se considerar o preço da arroba, resultado da menor oferta de carne no mercado (entressafra), mesmo que essa diferença de preço entre a safra e entressafra vem diminuindo anualmente.
Os preços regionais dos ingredientes que compõem a ração, além do valor de venda da @ no mercado do boi, é o que pode tornar uma região mais apta e viável para se investir na terminação intensiva de animais a pasto e/ou em confinamento.
Para se definir a estratégia a ser adotada, deve-se levar em consideração também o peso médio dos animais no início do tratamento, a categoria animal disponível (animais inteiros, castrados ou fêmeas), os ganhos diários médios obtidos com os diferentes tipos de suplementos e o período necessário para que os animais atinjam o peso ideal de abate com um adequado grau de acabamento da carcaça. Deve-se considerar que, em algumas situações, a idade dos animais e a qualidade da carcaça poderão influenciar o preço de venda da arroba.
Tradicionalmente na fase terminação, as margens de lucro são baixas, principalmente quando são analisados apenas os custos do ganho peso e da arroba produzida nesse período final. Na tabela 3, fica demonstrado que mesmo com os custos atuais de insumos e do valor da arroba no mercado físico, a margem obtida ainda está interessante. Vale lembrar que o valor da arroba produzida não é composto só pelos custos diretos como alimentação, operação e sanidade, mas também pelo indiretos como a reposição animal e depreciações.
Tabela 3) Suplementação mineral e terminação com ração comercial no período de seca.
Figura 2) Animais em terminação em semiconfinamento com ração (BEEFPEC 16).
No gráfico 1, observa-se os valores das arrobas produzidas com as diferentes estratégias nutricionais disponíveis para o período de seca. Mesmo considerando que as simulações de custo foram feitas para categorias diferentes, os dados obtidos são válidos também para compormos o custo médio de produção, desde a desmama até o abate ou venda dos animais, e assim, sabermos qual será a margem financeira obtida para cada sistema de produção.
Gráfico 1) Custo da @ produzida nas diferentes estratégias nutricionais para o período de seca.
De qualquer maneira, mesmo com a sinalização de preço no mercado futuro para os contratos de outubro semelhante ao valor praticado no mercado físico atual, com a tendência de ligeira queda ou estabilização para os principais balizadores de preços dos concentrados das dietas, podemos concluir que a simulação momentânea se mostra como uma ferramenta válida para se tentar prever como se comportarão as margens econômicas no mercado de terminação nessa entressafra.
César Vitaliano Graminha
Zootecnista
Gerente Técnico Comercial